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Não quero pensar na crise.
Não quero pensar em falta de emprego,
de poder de compra, de oportunidades para os jovens.
Não quero pensar em nada disto.
Greves? Não, obrigada.
Nem na troika quero pensar.
Quero ser como a avestruz
enterrar a cabeça na areia até que a crise passe.
O futuro depois se verá
quando chegar a altura resolverei e decidirei o que fazer.
Para já, quero dormir
quando tudo tiver passado acordem-me.
Mas não me chamem cobarde.
Cobardes são os que fogem e eu nunca fugi.
Não fugi à falta de trabalho nem ao trabalho difícil
não fugi a estragar a pele das mãos
a ganhar tantas rugas que transporto
a perder a vivacidade na pele do rosto.
Não fugi.
Enfrentei o que tinha de vir e veio.
Suportei a miséria, o desdém
os olhares de piedade e de troça
com que me olhavam por ser pobre e ter "muitos" filhos.
"Isso agora já não se usa" diziam...
Suportei o que tinha de vir e veio.
Mas assim como veio se foi, e fiquei livre.
Livre para viver sem me preocupar
com a crise ou com a troika
pois quem nunca teve as riquezas que alguns têm
não tem medo de ser pobre, que é o que sempre fui.
Por isso, não quero ouvir falar em desgraças
que desgraçada fui a vida toda...
Felipa Monteverde