Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



13
Jan14

A crise dos outros

por Felipa Monteverde

A crise dos outros não me incomoda

jamais alguém se preocupou com a minha.

Vivo em crise desde que nasci, poupança

foi a primeira palavra que aprendi.

 

Tenho desejos, como toda a gente tem, de

ter coisas boas e bonitas – mas a crise que

me acompanha desde o nascimento jamais

me permitirá tê-las para além do sonho…

Passeios, viagens que farei, vestidos e joias

que um dia comprarei…

 

Entretanto esse sonho vai mirrando

cada dia mais… pouco a pouco vai deixando

de ter espaço para eu lá habitar… E de novo

acordo para a crise, real mistura de emoções que

todos sentem, entre altos desejos e vontades

e a simples satisfação de meras necessidades…

 

A crise dos outros não me incomoda, se

a vivem num vestido mais bonito do que o meu.

 

Felipa Monteverde

08
Jan14

Manhã de sol

por Felipa Monteverde

Engoliu à pressa o café, a chávena escaldando os dedos. Queimou a língua mas não se importou, lá fora a primavera despertava e ele queria assistir ao nascimento da primeira flor. Ver o sol, depois de semanas ininterruptas de chuva, era como renascer. Sentia as forças aumentarem, a alegria a instalar-se.

Bebeu à pressa o seu café e ficou aguardando, a menina Eugénia viria logo para lhe empurrar a cadeira até ao jardim. Deixá-lo-ia lá, uma manta sobre os joelhos, até que a chamasse. Mas hoje não chamaria, as saudades que sentia do sol não se matariam com uma hora ou duas de exposição. Precisava de o sentir na pele, de o deixar abrasá-lo com o seu calor. Viesse a menina Eugénia buscá-lo apenas para o almoço, até lá queria absorver tudo o que pudesse do astro amigo.

Ficou horas no jardim. Com o olhar de quem se habituou desde muito cedo a reparar nos mais ínfimos pormenores das coisas, ele via todas as plantinhas que despontavam no jardim, todas as flores cujo botão já assomava. E desenhava.

Nos seus desenhos havia sempre flores, havia sempre uma nova planta ou flor para mostrar ao mundo. Ao mundo ou à menina Eugénia, que era quem dependurava todos esses desenhos nas paredes do seu quarto. E até no corredor, quando todas as paredes do quarto que era o seu mundo não chegavam. 

 

Felipa Monteverde


Mais sobre mim

foto do autor


Arquivo

  1. 2016
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2015
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2014
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2013
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2012
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ


subscrever feeds