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Maria Antónia acordava todos os dias às sete horas. Não que se levantasse a essa hora, mas gostava de ficar sempre um bocadinho na cama, acordada, antes de se levantar para mais um dia de trabalho.
Por volta das oito horas já tinha tomado o pequeno-almoço, estava pronta para sair e esperava por ele.
Ele era o autocarro, o companheiro das oito, como dizia. Todos os dias da semana, à mesma hora, mais minuto menos minuto, ela apanhava aquele autocarro e lá ia, sem vontade nenhuma, trabalhar.
Ah, como ansiava um dia encontrar um homem rico, ou pelo menos um daqueles que têm brio masculino, ou lá o nome que isso tem, e não querem que a mulher trabalhe... assim já ela não teria de se preocupar em levantar-se da cama, ficaria todo o dia entre os lençóis, bem deitadinha...
O pior seria o dinheiro. Habituada à independência financeira desde muito nova, algum dia seria ela capaz de depender de um homem? Depender para tudo, pedir dinheiro para tudo, até para comprar um simples lenço?
Não sabia, não sabia se seria capaz... queria era dormir, isso sim, até ao meio-dia, todos os dias... o resto ver-se-ia depois.
Mas encontrar um homem desses não é tarefa fácil. Ela bem tenta, mas não é fácil. É que para que ela se submeta a um homem desses, de quem ficaria totalmente dependente, ele tem de ter todas as qualidades, todinhas mesmo, não perdoa nenhuma...
E por isso ainda espera por ele, pelo homem e pelo autocarro, todos os dias. O autocarro nunca falta, o homem tarda em aparecer... mas um dia chegará, ela sabe, em que o encontrará, num sítio qualquer. Se há tantas mulheres com essa sorte, por que não há de ela tê-la também?
Felipa Monteverde